Arquitetura natural, engenharia original e tudo belo
Tudo começa com Edgar J. Kaufmann, rico empresário dono de uma loja de departamentos de uma cidade do estado americano da Pensilvânia e sua esposa, Liliane Kaufmann. Edgar, na época, proprietário de uma belíssima área dentro de um bosque chamada Bear Run e lá havia uma cascata.
Como o nome do projeto indica, o protagonista de nosso caso é a cascata.
Projeto dos anos 30, Edgar vislumbrava uma casa com vista para a cascata, mas o arquiteto Frank Lloyd Wright, responsável pelo projeto insistiu: “Quero que viva na cascata, não que apenas olhe para ela”.
Wright tem como um dos conceitos mais importantes em sua carreira a individualidade dos projetos, seja por sua localização ou função. Conhecido por mesclar de maneira única a obra com a natureza de entorno, aos 40 anos, ao extinguir de seus projetos ambientes como o sótão, revoluciona a arquitetura.
Forte influenciador da arquitetura moderna, é respeitosamente tido como um dos arquitetos mais importantes do século XX.
A linha de raciocínio de Wright era que a visão diária das quedas d’águas em algum momento ficaria banal e perderia o apreço pela sua magnitude, “sentir a força com que cai e passa o riacho, não visualmente, mas através do som que se produz, percorrendo toda a casa”. Como resultado temos um dos mais belos projetos da atualidade. O texto não visa mudar essa concepção, mas houve problemas… como qualquer obra.
Projetar, obras e problemas
Tudo foi atentado por Wright em associação com Mendel Glickman e William Wesley Peters.
No projeto se via uma casa de três níveis com uma área prolongada como uma consola (ou cantilever, uma saliência na parede/viga com um formato variável: ex.: pontes, postes de iluminação, asas de avião e varandas de edifícios são exemplos deste tipo de elemento estrutural) sobre a cascata, com desenhos arrojados, combinando concreto armado, aço, vidro e pedras do próprio lugar.
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O problema
Uma obra-prima mas vamos ver aonde toda a dor de cabeça começa. Um estudo que se iniciou em 2002 indicou que o projeto estrutural original e toda a sua elaboração do plano foi apressada. As consolas tinham sido reforçadas de forma inadequada e não teriam suportado o seu próprio peso.
(Detalhes em inglês: http://www.structuremag.org/wp-content/uploads/2014/09/Fallingwater-by-Gerard-Feldmann1.pdf)
E se engana quem acha que foi algo que aconteceu depois de muito tempo (já que é um projeto 1934), desde o início da obra deflexões das consolas de concreto foram noticiadas logo que a cofragem (fôrmas/moldes) foi removida na fase de construção.
Mofo foi outro problema crônico da casa, por estar em água corrente.
Estamos falando em uma obra que chegou ao valor de US$ 155 mil – equivale hoje a cerca de US$ 2,7 milhões – e os custos de restaurações superou os US$ 11 milhões. Valores gigantescos.
Como resultado, na região há um café que tem escrito em um painel: “Frank Lloyd Wright construiu uma casa sobre uma cascata, algo que não deve ser feito”.
É relevante mencionar que a Casa de Cascata teve seus defeitos, mas não desmerece a beleza transcendental como um todo e, atualmente não há como mensurar o valor desta obra.
Uma obra de arte, a que preço?
Wright foi brilhante, inovador, é uma obra-prima inegável, esta residência privada é um exemplar ímpar de arquitetura orgânica: uma obra sobre uma cascata que está apoiada sobre rochas do próprio ambiente, rochas essas que podem ser vistas na sala de estar. Resultando na época quebras de paradigmas que inspira arquitetos até hoje, não há o que questionar.
O que queremos indagar é a gestão que foi conturbada com uma execução acelerada.
Vamos analisar basicamente os valores da obra e restauração, facilmente concluímos que as restaurações custaram 3 vezes mais que o custo total da obra, um prejuízo assustador.
Transportando para os nossos campos de obras, muitas vezes criamos uma ilusão que somente rapidez é sinal de lucratividade, mas vamos ousar um pouco (se vendermos excelência também), uma obra sem custos de restaurações e manutenções – faz aí na ponta do lápis – não seria mais lucrativo?
Agora vamos pensar no cliente, uma pessoa que não tem problema depois de estar com a sua chave de casa na mão não é mais feliz e satisfeito que um cliente que convive com rachaduras e afins e constantes obras para restauração? Seria relevante pensar em satisfação do cliente.
Investir em projeto e gestão não é prolongar a data da entrega da obra.
Pense acima de tudo isso, projetar e gerir com excelência é o mesmo que pensar em qualidade. Corte gastos não contabilizados da obra.
Neste texto queríamos passar a importância de investir em projeto e na gestão da sua obra, isso sim é lucrar com inteligência. Para concluir, deixo uma citação de Abraham Lincoln:
Dê-me seis horas para derrubar uma árvore e passarei as quatro primeiras afiando o machado. – Abraham Lincoln